sexta-feira, 30 de maio de 2008

HOSTIS ( diario de bordo)

Resolvi escrever alguma coisa sobre minha realidade actual, conflitos diários no meu intercambio aqui na Itália, onde estou dois messes e devo permanecer por mais dois.
Antes de sair do Brasil muitos sonhos(ahahahh estou indo estudar fora), deslumbramentos, planos, que desmoronaram ao desembarcar, simplesmente pelo fato de possuir um pouco de mela nina a mais que os italianos, sou vista como o inimigo, a ameaça.
Descobrir que ser brasileira podem me trazer algumas vantagens(claro quando as pessoas sabem que eu sou) por que ser afro-descendente não. Ser brasileira na Itália è futebol, samba, praias, mulheres bonitas e Rio De Janeiro. Ser afro-descendente na região de Veneto é ser um africano ilegal, traficante, ladrão, extra-comunitário, mas que os italianos precisam para limpar o chão.
Ontem a caminho da universidade parei no semáforo, o sinal era vermelho ao meu lado uma jovem que parecia ter a mesma idade que a minha, inclinei minha mão para pedir passagem para pedestre, ela segurou a bolsa com toda força que pode, talvez esteja escrito na minha testa"fuja é uma ladra, negros são perigosos" quando o sinal ficou verde ela andou na frente com muita pressa não sabendo ela que eu iria para o mesmo local, concerteza isso não passou pela sua cabeça por que na minha classe tem 150 alunos e eu sou a única negra, me sinto a Deusa de ébano com todos os olhares na minha direçao.
Em todo o mundo existem preconceitos de todos os tipos, mas nunca me senti fora da raça humana, um ser extra-comunitário. O Brasil tem 120 anos da assinatura da lei áurea, mas os opressores ainda não libertaram os oprimidos, e talvez nunca façam isso, ser opressor è cómodo,é bom. Segundo Paulo Freire " os oprimidos deixarão de serem oprimidos quando retirarem os opressores que existem dentro deles".

Tudo na vida são questões de valores, os meus são diferentes dos seus, vale a pena um respeito mutuo. As vezes acho que o lugar da Itália é continuar nos livros de historia. Me pergunto de que vale a pena ser europeu, fazer parte do G7 e ver as pessoas como inimigos? Nos países de terceiro mundo existem mais respeito para com o próximo.