quarta-feira, 11 de junho de 2008

IDENTIDADE...........

Resolvi escrever algo sobre esse tema por que nesse intercambio de quatro messes na italia, surgiram-me algumas inquietaçoes e curiosidades sobre a minha geraçao. Geraçao sobre o qual nao se aprende nas escolas e que nao aparece nos livros de historia, geraçao que era considerada inferior por que era diferente, que nao tinha alma, que nao era gente, geraçao que jà morava ali, outros que foram forçados a ir, outros que sabiam onde queriam chegar. é assim que surge o brasileiro, do indio desapropiado, do negro escravisado e do portugues que procurando a India desembarcou no Brasil.
Um certo dia ao sair da universidade um rapaz começa a gritar: AFRICA, AFRICA, AFRICA. Continuei caminhando até o momento que me dei conta que era comigo, ele me perguntou de onde eu era, respondi Brasil, vi a decepçao em seus olhos, ele estava convicto que eu era africana. Eis que surge a questao: Nao sou africana, mas sou afro-descendente. Qual é a historia do meu povo? quem sao meus herois? quem eram meus avos? por que minha familia nao tem brasao? qual a lingua que falamos? Como se constroe a identidade do povo brasileiro? resolvi ir na fonte que conta a historia do brasil na otica do povo, escrito pelo povo para o povo( foi a unica que eu li nesses meus 20 longos anos de vida): Viva o Povo Brasileiro de Joao Ubaldo Ribeiro, o livro conta historias do negro no brasil a partir da sua visao de mundo, das vozes que foram caladas durante muitos anos, da visao eurocentrica que se ensinam nas escolas e da historia com H maiusculo que sempre foram tidas como verdadeiras.Segundo joao Ubaldo o Brasil é formado do Indio que come carne holandesa, dos negros escravos que nao eram considerados como fazendo parte da populaçao brasileira e dos "europeus transplantados" aqueles que sao brancos brasileiros, mas nao se sentem brasileiros por que tudo da europa é melhor. Um dos personagens centrais: Maria da fé, mulher, negra, filha de escrava com senhor branco que nunca soube da sua existencia, criada por um negro aculturado que possuia um capital cultural (muito raro naquela epoca) que sabia como se dar bem com a elite, mas fazia parte do povinho, que sobrevivia do que nòs chamamos hoje de "jeitinho brasileiro".
"Disseste bem, disseste muito bem: nós somos o povo desta terra, o povinho. É o que nós somos, o povinho. Então te lembra disto, bota isto bem dentro da cabeça: nós somos o povinho! E povinho não é nada, povinho não é coisa nenhuma, me diz onde é que tu já viu povo ter importância? Ainda mais preto? Olha a realidade, veja a realidade! Esta terra é dos donos, dos senhores, dos ricos, dos poderosos, e o que a gente tem de fazer é se dar bem com eles, é tirar proveito do que puder, é se torcer para lá e para cá, é trabalhar e ser sabido, é compreender que certas coisas que não parecem trabalho são trabalho, essa é que é a vida do pobre minha filha, não se iluda. E, com sorte e muito trabalho, a pessoa sobe na vida, melhora um pouco de situação, mas povo é povo, senhor é senhor! Senhor é povo? Vai perguntar a um se ele é povo! Se fosse povo, não era senhor". (VPB, p. 373)
Acredito que chegamos ao ponto de nao precisar mais assimilar a cultura do colonizador para sobreviver,buscamos o conhecimento e a valorizaçao da nossa historia, dos costumes, religiao. O personagem Maria da fè foi um exemplo de resistencia a cultura europeia"(...) Quem é que trabalha? nao é o povo? nao é o povo que sustenta?entao é o povo que vai mandar" (VPB,P. 373).
P.S. desculpem os erros ortograficos, mas os computadores da italia nao tem configuraçao para a lingua portuguesa...
beijos....