terça-feira, 26 de julho de 2011

Crônica do AMOR



Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os
honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a
porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor
acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano.
Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo
tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que
se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não
respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a
sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no

ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é
mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com
você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro
trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está
sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a

menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue
despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita
na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama

este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta
dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia
romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu
corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no
banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura

por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo
desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma
equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo
que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons
pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso
(Arnaldo Jabor)

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